sábado, 4 de março de 2017

Aécio mirou Dilma, acertou o próprio pé e agora é torrado pelas empreiteiras


  • Quando o senador tucano Aécio Neves escolheu passar o Carnaval no condomínio luxuoso Aldeia da Praia, em Guarapari, local de propriedades de famílias endinheiradas do Espírito Santo e de outros estados, não imaginou que continuaria em evidência na imprensa durante os dias de folia, mas de uma forma bastante diferente da que sempre gostou.
A colunista Heloisa Tolipan, do Jornal de Brasil, contou que o senador ficou hospedado na casa dos amigos empreiteiros mineiros Martha e Flamarion Wanderley - herdeiro da Cowan, uma construtora sediada em Belo Horizonte, conhecida pelas grandes obras públicas naquele estado.
  • Em tempo, a Cowan foi a responsável pela construção do Viaduto Guararapes, que caiu em Belo Horizonte em 2014, pouco antes da Copa do Mundo, matando duas pessoas e ferindo outras 23. Naquele ano, um dos diretores da construtora, José Paulo Toller Motta, admitiu em audiência pública na Assembleia Legislativa mineira que a empresa utilizou concreto com prazo de validade vencido nas obras da estrutura. Porém, segundo ele, o material ainda apresentava boas condições de uso e acabou sendo usado nos pilares de sustentação do viaduto – que ruíram.
No mesmo ano, em uma entrevista para a revista Exame, o dono da Cowan, Walduck Wanderley, fez questão de lembrar que "não existem freiras no mundo das empreiteiras..." Também disse que considerava importante ter "amigos" em postos-chave do governo. Admitiu que ajudou a financiar campanhas eleitorais e que emprestou seus jatinhos a políticos. Michel Temer utilizou justamente um avião da Cowan para a parte que lhe coube na campanha presidencial, como vice de Dilma em 2014. Naquele ano, o PMDB recebeu nada menos do que R$ 1,8 milhão da Construtora, enquanto o PSDB ficou com R$ 500 mil. Para a campanha do candidato Aécio Neves à presidência, a construtora doou R$ 1,2 milhão.
  • Mas as doações legais e registradas da Cowan para a campanha de Aécio e a hospedagem do senado na mansão de seus proprietários não está exatamente em questão. O que o senador e presidente do PSDB terá de explicar são "doações" recebidas de outras construtoras.
Por exemplo: autor da ação que pede a cassação da chapa Temer/Dilma, Aécio Neves foi citado por Marcelo Odebrecht – que prestou depoimento ao TSE nesta quarta-feira (1º). Segundo o empreiteiro, na campanha eleitoral de 2014 o tucano lhe pediu R$ 5 milhões em uma primeira conversa e, no final do primeiro turno da eleição, com o crescimento da então candidata Marina Silva, Aécio pediu R$ 15 milhões. Odebrecht disse que, num primeiro momento, negou o pedido do senador, mas que diante da insistência acabou cedendo mais adiante. O empresário afirmou que se encontrou várias vezes com o senador, e que este sempre pedia mais dinheiro para campanhas, além dos vultosos R$ 15 milhões. De acordo com a assessoria técnica do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Aécio repassou para o PSDB R$ 2 milhões recebidos como doação de campanha da Odebrecht, mas não registrou a transferência na prestação de contas.
  • A coisa vai além. Um dia depois de Marcelo Odebrecht ter relatado a doação de R$ 15 milhões para Aécio Neves, Benedicto Júnior, ex-presidente da divisão Infra-estrutura da mesma empreiteira, disse que entregou, novamente a pedido do senador, R$ 9 milhões para campanhas tucanas. Tudo no caixa dois. Aécio reconhece que fez o pedido, mas nega que a dinheirama circulou por caixa dois.
Segundo o depoimento de Benedicto Júnior, a Odebrecht repassou R$ 6 milhões ao PSDB para serem divididos entre as campanhas de Pimenta da Veiga (candidato a governador de Minas, derrotado), Antonio Anastasia (senador, eleito) e Dimas Fabiano Toledo Júnior (que foi diretor de Furnas e concorreu a deputado federal, eleito). Ainda de acordo com o executivo, outros R$ 3 milhões foram para o publicitário Paulo Vasconcelos, responsável pela campanha presidencial do próprio Aécio Neves.
  • Benedicto Júnior só não pôde detalhar a acusação de caixa dois para Aécio porque foi interrompido pelo ministro Herman Benjamin, relator do processo no TSE. Segundo o ministro, os detalhes da doação a pedido do tucano não são pertinentes ao caso, que investiga apenas a chapa Dilma-Temer, apesar de terem, conforme ressalvou, "relevância histórica". O depoimento foi dado no processo do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra Dilma e Temer movido pelo próprio Aécio, candidato derrotado na eleição presidencial de 2014
Em outro depoimento, no mês passado, Benedicto, também afirmou que se reuniu com o Aécio para negociar um esquema de propina na licitação da obra da Cidade Administrativa – sede do governo mineiro – para favorecer grandes empreiteiras. A reunião, de acordo com Benedicto, ocorreu quando Aécio era governador de Minas Gerais.

Tem a Andrade Gutierrez:
  • Na quinta feira (2), o TSE determinou que o PSDB e o tucano Aécio Neves expliquem doações recebidas em 2014 para a campanha presidencial do então candidato. A ação aponta substancial diferença entre o valor doado e o declarado pelo partido à Justiça Eleitoral.
Também em um acordo de delação, o ex-presidente da empresa, Otávio Azevedo, disse que a doação à campanha tucana foi de R$ 19 milhões. No entanto, o senador e o PSDB declararam ao TSE, na prestação de contas da campanha, recebimento de R$ 12,6 milhões. Falta dizer onde foram parar nada menos que R$ 6,4 milhões. No despacho, o relator do processo, ministro Napoleão Maia, deu prazo de três dias para o PSDB explicar as declarações de Azevedo, contados a partir da notificação ao partido.
  • As contas da campanha de Aécio Neves passam por investigações determinadas em agosto do ano passado pela ministra Maria Theresa de Assis Moura, então corregedora do TSE, que listou 15 irregularidades e inconsistências nas declarações candidato do PSDB à presidência.
E só pra lembrar, Aécio ainda deve responder pelo famoso caso da "Lista de Furnas", uma relação de pagamentos clandestinos feitos por empresas fornecedoras daquela estatal para políticos tucanos e seus aliados, nas eleições de 2002. O Pocurador-geral da República, Rodrigo Janot, enviou na quinta feira (2) um pedido ao Supremo Tribunal Federal (STF) para ouvir o senador e presidente do PSDB. Em depoimento ao Ministério Público o doleiro Alberto Youssef, afirmou ter conhecimento de que o Aécio quando deputado federal, estaria recebendo recursos desviados da estatal mineira, num esquema que envolve sua irmã.
  • Ou seja, a turma está assando o "mineirinho", apelido que aparece nas planilhas de doações eleitorais da construtora Odebrecht ao senador, aquele que, logo após a derrota para Dilma Rousseff, declarou ter perdido a disputa presidencial para uma "organização criminosa".