Luis Nassif
A informação da
coluna Radar (https://goo.gl/EsZI00)
da Veja, de que a Odebrecht teria feito pagamentos milionários ao senador José
Serra na conta de “uma parente” e através do lobista José Amaro Pinto, é a pá
de cal na carreira do senador. Desvenda-se o maior segredo de Polichinelo da
história da república: o processo de enriquecimento de Serra na política.
A parente de
Serra obviamente é a filha Verônica. Completando a delação do executivo da
Odebrecht, há a famosa tarja preta que a Polícia Federal colocou na agenda
telefônica de Marcelo Odebrecht, antes de vazar a agenda para a mídia.
Amadores, chamaram imediatamente a atenção de todos e não se deram conta de que
um bom editor de imagens eliminaria as tarjas revelando os nomes. O compromisso
tarjado era de Marcelo Odebrecht, com uma reunião com José Serra justamente no
escritório de Verônica.
Com a
possibilidade aberta, agora, de quebrar o sigilo das contas de Verônica Serra,
especialmente dos seus fundos de investimentos, será bastante simples desvendar
todo o sistema de lavagem de dinheiro de Serra, que o transformou em um dos
políticos mais ricos do país.
Os dois caminhos
de Serra para a lavagem de dinheiro foram o mercado de tecnologia e o de obras
de arte – ambos propícios à lavagem devido às precificações bastante voláteis e
subjetivas.
Pessoas que
visitaram Serra em sua casa, aliás, se espantaram com a quantidade de obras de
arte espalhadas pelas paredes. Na denúncia que a PGR encaminhará ao STF
(Supremo Tribunal Federal), se saberá qual o estágio atual de Rodrigo Janot em
relação à blindagem de Serra. Se não incluir abertura de contas de Verônica e
arresto de obras de arte, não será uma investigação séria.
Aqui está um
roteiro simples e algumas pistas para destrinchar os métodos de lavagem
de dinheiro de Serra:
01-)O
caso Santander-Banespa
Desde os idos de
2.000, Serra já se valia das incursões de Verônica no mercado de tecnologia
para lavar dinheiro. Quem a conheceu na época sabia ser uma moça limitada, sem
noção clara sobre empresas startups. Mesmo assim, conseguia feitos
extraordinários.
O primeiro deles
foi sua aproximação com argentinos da Patagon – um sistema de banking
eletrônico. Verônica conseguiu vender para o Santander por US$ 700 milhões, uma
soma impossível. O próprio presidente do banco participou das negociações.
Anos depois,
procurei mapear os interesses do Santander na época. O maior deles era
relacionado com a compra do Banespa. Para conseguir viabilizá-lo economicamente
necessitava que fossem mantidas no banco as contas dos funcionários públicos e
do Estado. A lei impedia.
De alguma forma,
o Santander obteve a autorização. Embora o tempo transcorrido seja grande,
provavelmente o rastro do dinheiro mostraria os beneficiários desse jogo e a
maneira como conseguiu atropelar as leis e preservar as contas públicas, mesmo
após a privatização do banco.
Pouco tempo
depois, o Santander pagou US$ 5 milhões para os argentinos receberem o software
de volta. Hoje em dia, ele repousa em um computador desligado, em um banco
médio paulista.
02-)O
caso Experian-Virid
O grupo britânico
Experian adquiriu a Serasa e avançou como um leão faminto sobre o mercado de
avaliação de devedores e de bancos de dados. Nessa ocasião houve a entrega para
Experian do banco de dados do Tribunal Superior Eleitoral pela presidente
Carmen Lùcia. A operação voltou atrás depois do protesto de Marco Aurélio de
Mello. Carmen Lúcia provavelmente não sabia dos valores envolvidos no mercado
de banco de dados. Mas seria interessante saber dela quem a convenceu a
oferecer o banco de dados do TSE.
A operação mais
suspeita da Experian foi com os Cadins (Cadastro dos Devedores) estaduais. No
final do seu governo, Serra entregou à Experian o Cadin do estado. Além do mais
valioso, abriu as portas da Experian para os demais Cadins estaduais.
Pouco tempo
depois, Verônica adquiriu participação em uma empresa de e-mail marketing, a
Virid – que, na opinião de analistas de mercado não deveria valer mais de R$ 30
milhões. Em seguida revendeu-a para a Experiência por R$ 104 milhões. Na época,
consultei o setor de relações com o mercado da Experian, em Londres, e me
informaram que o valor da operação era sigiloso.
03-)Os
negócios com Daniel Dantas
No livro “A
Privataria Tucana”, o repórter Amaury Junior esmiuça os jogos de offshores de
Verônica.
Há dois episódios
pouco analisados e escandalosos. Um deles, o site de comércio exterior que
Verônica montou com a irmã de Dantas e que conseguiu o acesso a informações
sigilosas do Banco Central e do Banco do Brasil. Se não fosse denunciado,
valeria dezenas de milhões de dólares.
Na campanha de
2002, Serra esquentou a casa onde morava, perto da Praça Pan-americana, com
recursos supostamente enviados por Verônica dos Estados Unidos. Foi um
esquentamento feito às pressas, depois que o PT levantou suspeitas sobre a
casa.
Aliás, a história
da casa é relevante. Serra a adquiriu quando Secretário do Planejamento de Montoro
e quando corriam rumores da montagem de uma indústria de precatórios no Estado:
mediante propinas, conseguia-se furar a fila de anos. Serra sempre dizia que
alugara a casa – enorme – porque conseguira um aluguel especial com o
proprietário.
04-)Os
fundos de investimento
O fundo de
investimento de Verônica Serra possui 10% do Mercado Libre, portal cotado até
pouco tempo na Nasdaq em US$ 2 bilhões. Quebrando o sigilo de Verônica, será
fácil rastrear a maneira como em tão pouco tempo ela acumulou um capital de US$
200 milhões em apenas um investimento.
05-)O
fator José Amaro Pinto
O lobista José
Amaro Pinto sempre teve ligações estreitas com o lado FHC do PSDB. Foi colega
de Sérgio Motta e FHC na Sociologia e Política. É um senhor já de idade, culto,
cortês e que, até esta última informação, era conhecido como lobista dos grupos
franceses junto ao Brasil. Dentre seus clientes estava a Dassault, que fabrica
os Mirage, a Tales, de radares, e a notória Asltom.
Com a informação
de que foi o intermediário entre a Odebrecht e Serra, surge a verdadeira face
de Ramos: em vez de lobista da França no Brasil, era lobista do PSDB junto a
interesses franceses.
Fonte: http://jornalggn.com.br/noticia/propinas-serviam-para-enriquecimento-pessoal-de-serra#.WN_WrHeinFo.twitter